1/6/09


Dilema




Ha uns poucos anos havia um grande enfoque sobre os donativos de roupa de segunda mão, vinda essencialmente da Europa ou dos EUA, vulgo xicalamidade (ou calamidades). Segundo a posicao então defendida, a abundancia destas roupas no mercado africano, tanto gratuitas como e sobretudo, à venda (em Maputo temos o grande shopping ao ceu aberto de Compone), era uma barreira ao desenvolvimento da industria local de roupa.


Dizia-se, e até faz sentido, desde este ponto de vista, que este mercado de roupa de segunda mão impede o crescimento de fabricas locais de roupa. Mais tarde fui me perguntando se este facto era baseado em factos ou suposicões, dado que eu pelo menos não conheco muito o mercado de roupa d efabrico nacional...


Mas de todas as formas, deixei de consumir segunda mão, para apoiar as indistrias emergentes.


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Durante as ferias de natal, eu e a familia aproveitamos para separar roupas que ja nao usamos. Normalmente sao roupas ainda em bom estado, que por uam razao ou outra (maldito materialismo), deixamos de usar por um bom tempo. A ideia era doá-las ao Exercito de Salvacao, uma instituicao de caridade, que apoia os pobres cá. Bem... pobres? Apoia os mais desfavorecidos, ja seja com roupas e bens materiais, ou com comida e refeicoes, e ainda servicos.


Uma das coisas que eles fazem com as roupas eh revende-las. O vintage é uma tendencia estranha de valorizacao de roupas e móveis usados (ou velhos, hehehe). Engracado, enquanto escrevo penso "na Europa é vintage, em Africa é pobreza! Enquanto que cá até algumas revistas de moda fazem artigos, fotos e muita promocao, em Africa é uma vergonha comprar usado! Oh, mundos díspares!


Voltando ao caso, estava eu e pensar em como transportar as roupas para a estacao mais proxima do frelsesarmee, quando entra uma mensagem no meu telefone, de um colega ugandes. Ele pedia roupa usada que a gente pudesse oferecer, porque estava a organizar um envio para a terra natal, em especial para a zona de guerra. recordando-me de como a xicalamidade salvou-nos nos anos 80 (embora eu fosse uma crianca), nem pensei duas vezes.


Mas ficou-me o dilema: ao enviar estas roupas, estamos ou não a contribuir para a obstrucão da industria local?

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